2.
O Polí(p)tico Superpopular
O
conceito de videografismo que apresentei à Orquestra Superpopular, se analisado
sob estes termos, consistiria na releitura local de diversos signos universais
e/ou estrangeiros. Apropriarmo-nos de uma estética derivada da pop art,
dos videogames e demais símbolos da cultura de massa seria, portanto,
cunhá-los superpopulares.
Com
a forma definida, prossigamos ao conteúdo que comporá a imagem de um superpovo.
É preciso ter cuidado, no entanto, pois aí cai o pê mudo de nosso Polí(p)tico
Superpopular. Apropriações deste gênero podem originar equivocadas e
grosseiramente preconceituosas tentativas de representação de um povo “pobre
coitado” ou do resgate de um “bom selvagem”. Idealizar minorias étnicas ou
classes sociais menos privilegiadas periga transformá-las em artigos de museu
ou, pior, animais de zoológico.
Evitar um equívoco desta magnitude é
fundamental. Daí nasce o desejo de uma pesquisa referencial que encare o
“super” de “superpopular” não como prefixo indicativo de algo extremamente
popular, mas sim que esteja de fato em um nível superior. Algo que todos
compartilhem.
Aqui,
remonto a um artigo de Maurício Lissovsky em que o pesquisador analisa quatro
casos distintos de ressignificação da imagem documental. Chama atenção, no
contexto da nossa pesquisa, o caso de Queensland, Austrália. Uma grande
quantidade de fotografias de aborígenes, “considerados espécimes raros,
precariamente preservados no ‘museu vivo’ de suas ‘tribos’” (LISSOVSKY, 2009,
p. 129), foram feitas desde o
final do século XIX com o intuito de preservar uma suposta memória etnográfica.
Tais registros, no entanto, estão sendo agora reapropriados.
“(...) Nas últimas duas décadas, os arquivos etnográficos e históricos
australianos começaram a ser frequentados por um tipo novo de pesquisador:
estudantes e antropólogos, eles próprios aborígenes ou remanescentes de um
longo processo de deslocamentos e adoções forçadas. E o que eles começaram a
ver nestas imagens não é mais a história da etnografia a serviço do colonialismo,
ou os vestígios materiais de práticas culturais desaparecidas, mas pessoas
reais, seus próprios antepassados, seus avós e bisavós.” (LISSOVSKY, 2009, p.
129)
Inspirado
por esta abordagem, entendo que buscar no superpovo nossa inspiração visual
significa procurarmos em nós mesmos, em nossas próprias vidas, algo que nos
aproxime, ao mesmo tempo e de uma só vez, de todas as camadas da sociedade em
que estamos inseridos, das mais às menos favorecidas. Minha proposta para que
montemos o nosso “Polí(p)tico” é resgatarmos em nossos próprios acervos as
imagens que darão forma à nossa estética.
Montemos este grande mural a partir de
nossas fotos de família, nossos vídeos, a partir do nosso passado e também do
passado de nosso país, nossas memórias. Enfim, de tudo aquilo que carregamos e
nos tornou quem somos. Nossas Histórias. Afinal, somos todos parte de um mesmo
superpovo.
3.
Posicionando a Orquestra Superpopular
Com tudo o que já foi dito em mente,
voltemos a considerar o conceito que deixei de lado anteriormente, o do
repúdio. Trata-se de uma linha diferente,
conforme já mencionado, e como tal é interessante que a sobreponhamos à linha
sobre a qual nos debruçamos até aqui. Se esta, a da apropriação, encontra seus
polos na graduação e no imediatismo, o repúdio de fato possui um antagonismo claro, a assimilação, esta sim um conceito ligado à passividade. Assim
sendo, proponho o seguinte gráfico:
E pergunto: onde queremos estar?
Pedro Capello
Bibliografia
HOBSBAWM, E.
J.. “O Velho Mundo e o Novo: quinhentos anos de Colombo”. In: HOBSBAWM, E.J.. Pessoas Extraordinárias. São Paulo: Paz
e Terra, 2005.
LISSOVSKY,
Maurício. "Viagem ao país das imagens". In: FURTADO, Beatriz (Org.). Imagem Contemporânea: cinema, tv,
documentário, fotografia, videoarte, games... Vol. I. São Paulo: Hedra,
2009.