“Vestir é um ato mágico”, Hélio Oiticica
“Enfeitar-se é um ritual tão grave. A
fazenda não é
mero tecido, é matéria de coisa. É a esse
estofo que com
meu corpo eu dou corpo. Ah, como pode um
simples
pano ganhar tanta vida? ”
Clarice Lispector, O
ritual, em A Descoberta do Mundo
Através da moda, observamos
um tempo: um tempo que está marcado pelo mais atual, pela presença das
tecnologias, por uma linguagem internacional e por uma valorização cultural. A
teoria fixou o foco em quatro funções práticas das roupas: utilidade, decência,
indecência (atração sexual) e ornamentação. George Sproles acrescenta mais
quatro funções: diferenciação simbólica, filiação social, autoaprimoramento
psicológico e modernidade.
Assim como a moda, o figurino
tem essas oito funções. A diferenciação está que o figurino é dependente não
comercialmente a um texto/conceito e utilidade como necessidade física. A
partir disso, se questiona ao que estamos dependente hoje, nós, o popular.
Popular
po.pu.lar adj m+f (lat populare) 1 Pertencente ou relativo ao povo; próprio do povo. 2 Comum, usual entre o povo: Linguagem popular. 3 Adaptado à compreensão ou ao gosto do povo. 4Promovido pelo povo; que provém do povo: Manifesto popular.5 Originado entre o povo ou por ele composto ou transmitido: Música popular; dança popular. 6 Que representa ou pretende representar a vontade do povo: Partido popular; governo popular. 7 Que é do agrado do povo; que tem as simpatias, o afeto do povo. 8 Notório, vulgar. 9 Democrático.
po.pu.lar adj m+f (lat populare) 1 Pertencente ou relativo ao povo; próprio do povo. 2 Comum, usual entre o povo: Linguagem popular. 3 Adaptado à compreensão ou ao gosto do povo. 4Promovido pelo povo; que provém do povo: Manifesto popular.5 Originado entre o povo ou por ele composto ou transmitido: Música popular; dança popular. 6 Que representa ou pretende representar a vontade do povo: Partido popular; governo popular. 7 Que é do agrado do povo; que tem as simpatias, o afeto do povo. 8 Notório, vulgar. 9 Democrático.
Povo.
O que pertence ou é relativo
ao povo em relação à roupa? O que é comum, usual ao povo? O que o povo usa e o
que ele gosta? O que é promovido pelo povo? O que é originado entre o povo ou
por ele composto ou transmitido? O que representa ou pretende representar a
vontade do povo? O que é do agrado do povo? O que tem sua simpatia e afeto? O
que e notório, vulgar? O que é democrático?
O jeans.
A calça
jeans já nasceu globalizada. O inventor era natural da Letônia. Quem financiou
a ideia foi o alemão Strauss. A patente foi americana. O tecido, francês: o
brim, rústico, feito da mescla do algodão, surgiu na cidade de Nîmes no século
XVII. O nome do tecido de Nimes, brim, acabou sendo abreviado para Denim. Os
italianos foram os primeiros a importar esse tecido, para confeccionar os
uniformes dos marinheiros que trabalhavam no porto de Gênova. Esses genoveses
eram chamados de genes pelos franceses. E depois, de jeans pelos americanos.
Assim surgiu o nome conhecido até hoje.
A calça
jeans, item tão básico quanto fashion, uma das peças mais democráticas do
vestuário, um objeto de consumo que revolucionou a maneira de se vestir, de
pessoas de várias gerações. Eleita pela revista americana Time como "a
vestimenta do século XX". O jeans é o
tecido do povo, é popular, é superporpular. O povo usa, gosta. É o tecido que
representa o trabalhador em todas as suas possibilidades. Pode ser vulgar, pode
ser notório, pode ser chique, esportivo e até básico. Do tecido usado para cobrir carroças
ao ícone da moda. Junto com
esse tecido popular, a proposta de figurino também conta com a valorização da brasilidade presente nas
roupas, através dos ricos trabalhos manuais que o país tem em todos os cantos.
Crochê, renda, bordados, ponto-cruz, fuxico, tricô, glitter, lantejoulas, penas
e diversos materiais que vão enriquecer o jeans.
Outra junção a essa
composição é o espelho. Uma superfície muito
lisa e que permita alto índice de reflexão da luz que incide sobre ele. Esse material é visto em todas
as casas, em globos de espelhos em boates, em banheiros, em lojas, enfim, em
todos os lugares aonde o povo, as pessoas permeiam. O espelho
vai refletir as projeções, o que vai resultar em um jogo de brilhos, cores e
movimentação para as peças.Com isso o
conceito do figurino é trazer para as roupas da orquestra o de mais
superpopular em matérias e tecido. Algo que o povo usa e abusa sem perceber.
Outra
questão importante é a modelagem. Ela vai buscar em todas as referências
visuais da moda, televisão e cinema no Brasil, selecionando o de mais
emblemático e superporpular, sendo direcionada para a personalidade de cada
integrante do grupo. A “estimulação erótica” que
está diretamente relacionada com o caráter sensual (visual e tátil) da moda
quando se trata de vestimentas, desenvolveu esse duplo valor até fazê-lo
despontar. Esta intensa dimensão tátil sugerida pelas roupas feitas com
materiais diversificados: as plumas, transparências, rendas e as exibições de
partes do corpo, complementam-se com a distância dos brilhos e dos espelhos. O
corpo, ao ser entregue à espetacularização, converte-se em uma extensão da
tecnologia, que passa a funcionar como uma prótese, experimentando em si mesmos
a tese de McLuhan de que os meios são uma “extensão do corpo”.
Caetano Veloso vestindo um parangolé |
Resultado de todas essas questões que abordam o figurino, o
jeans, os trabalhos manuais, a modelagem diferenciada para cada persona, a
questão masculino/feminino, os espelhos, a renda, as cores, rosa, azul, branco,
e por fim tudo isso se dá no espaço através do movimento dessas roupas. Através
da movimentação dos integrantes com a roupa é que se dá o figurino, fazendo uma
relação através do movimento com o trabalho de Oiticica, Parangolé. Parangolé são capas, estandartes, bandeiras para
serem vestidas ou carregadas pelo participante de um happening. As capas
são feitas com panos coloridos (que podem levar reproduções de palavras e
fotos) interligados, revelados apenas quando a pessoa se movimenta. A cor ganha
um dinamismo no espaço através da associação com a dança e a música. A obra só
existe plenamente, portanto, quando da participação corporal: a estrutura
depende da ação. A cor assume, desse modo, um caráter literal de vivência,
reunindo sensação visual, táctil e rítmica.
O participante vira obra ao vesti-lo,
ultrapassando a distância entre eles, superando o próprio conceito de arte, mas que fique claro, ao
vestir o Parangolé o corpo não é o suporte da obra. Oiticica diz que se trata
de "incorporação do corpo na obra
e da obra no corpo". O interesse de Oiticica,
ao criar o Parangolé, não foi outro senão o de levar o indivíduo ao dilatamento
de suas capacidades artísticas, para a descoberta de seu centro interior
criativo, de sua espontaneidade expressiva adormecida, condicionada ao
cotidiano. E, termino aqui, com as palavras de Bergson, que sintetizam a
experiência Parangolé:
Ao libertar e acentuar esta
música, eles hão de impô-la à nossa atenção; farão com que venhamos a
inserir-nos nela, como passantes que entram numa dança. E por aí impelir-nos-ão
a vibrar nas profundezas de nosso ser, algo que só estava esperando o momento
de vibrar.
Finalmente,
a movimentação no espaço faz acontecer o figurino no palco, a troca da luz com
os integrantes e o rebatimento para a plateia. O que gera a sensação de
vertigem, de os indivíduos girarem à sua volta e que ele próprio gira.
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